Na continuidade das pesquisas junto ao LEPHIS e o Grupo de Pesquisa, História, Cultura e Política, no ano de 2010 os professores Wilson Maske e Maria Cecilia Pilla apresentaram projetos de pesquisa próprios e para alunos a serem orientados. Como resultado foram selecionados 3 trabalhos, dois alunos a serem orientados pelo prof. Wilson e uma aluna pela professora Maria Cecilia.
Segue um pequeno resumo do projeto apresentado pela professora Maria Cecilia e na sequência apresentaremos os outros projetos e pesquisas que estão terminando nesse ano de 2011 com suas apresentações no SEMIC.
Da civilidade do silêncio à polidez das palavras: o homem-honesto em tempos de iluminismo (França – século XVIII)
Na sociedade de corte, ou na prática da vida mundana da Idade Moderna procura-se constantemente perceber o invisível, o oculto, a partir daquilo que se deixa à mostra: gestos, maneiras, vocabulário, formas de comer, cumprimentos, mesuras, e por aí vai. Ou seja, é a leitura do todo, em cada contenção, deferência; em cada palavra exposta, omitida; há um significado a ser decifrado. A partir dessa premissa, em pesquisas já em andamento tenho observado as noções conceituais referentes ao controle de si, em especial, do calar-falar no exercício da conversação, como estratégia de construção do chamado “homem honesto” na França do século XVII. Tenho buscado conhecer, a partir da análise das fontes, – manuais de civilidade mundana como os de Antoine Courtin e Nicolas Faret e manuais de civilidade cristã como o de Jean Baptiste de La Salle – as orientações nelas contidas, os preceitos que garantiriam o desenvolvimento de habilidades capazes de decifrar, de ler o grupo de pessoas e os gestos que as compõem. Assim, num certo sentido, este projeto busca dar continuidade a essas pesquisas. Pretende tratar dos preceitos referentes ao controle de si, em especial o controle da palavra no exercício da conversação mundana como táticas de manutenção ou obtenção de poderes numa sociedade francesa do século XVIII, período em que questões iluministas estão emergindo e consolidando-se.
Constituem fontes deste trabalho literaturas de civilidade, que circulavam na França do século XVIII, que dedicaram um ou mais capítulos sobre a arte da conversação. Em especial, “Ensaios sobre diferentes assuntos de literatura e de moral”, do Abade Nicolas-Charles-Joseph Trublet (1735),; “A arte de calar” do Abade Dinouart (1771); “De La Science Du monde er des connaissances utiles à La conduite de La vie”, de François Callières (1717); “Des hommes, tels qu’ils sont et doivent être », de Jean Blondel (1733) ; « L’art de connoistre les hommes » de Louis Debans (1702) ; « Manuel Moral suivi de Manuel de l’honnête homme » de Pierre Dumoulins (1778) ; « La religion de l’honnête homme » de Marquis Caraccioli (1766) ; « Manuel de l’honnête homme » de François Grasset (1770) ; e finalmente « Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens ; precedido de Discurso sobre as ciências e as artes” de Rousseau (1749).
O século XVIII é o período em que a polidez é objeto de intensa reflexão e debate. A civilidade é somente uma aparência? As pessoas que dela fazem uso o fazem tão somente por hábito ou por interesse? Seria a grosseria uma forma concreta de oposição, de contestação a um mundo desigual? A polidez é incompatível aos ideais iluministas?
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