Salões franceses do século XVIII:
espaços de sociabilidade e poder feminino è o trabalho de pesquisa aprovado para PIBIC da aluna Tayana. Ela é também orientanda da prof.a Maria Cecilia Pilla e tem bolsa da PUCPR para desenvolver suas pesquisas. Segue um resumo.
A habilidade de decifrar, de ler o grupo de pessoas e os
gestos que as compõem é valorizada desde a Antiguidade, já nessa época
relacionava-se o exterior das pessoas com seu interior. E na sociedade de
corte, ou na prática da vida mundana dos séculos XVI ao XVIII procurou-se
constantemente perceber o invisível, o oculto, a partir daquilo que se deixa à
mostra: gestos, maneiras, vocabulário, formas de comer, cumprimentos, mesuras,
e por aí vai. Ou seja, é a leitura do todo, em cada contenção, deferência; em
cada palavra exposta, omitida; há um significado a ser decifrado.
Quando a sociedade absolutista de corte passou a se
consolidar, com as transformações das relações do poder social, a nobreza
passou a depender do rei, pois com a monopolização militar e econômica a função do
guerreiro livre foi
desaparecendo. Com a crescente integração
monetária, a produção das propriedades dos guerreiros não era capaz de lhes
proporcionar uma vida rica e mantê-los
como classe superior. Para isso passaram a depender dos favores do rei, e só a vida na corte podia lhes
proporcionar tal prestígio e distinção social.
A vida nessa sociedade exigia o domínio de si e a construção
de uma imagem. O saber falar, se exprimir bem, vestir-se adequadamente, comer
com mesura, saber apreciar a arte, qualificava o homem, construía o que
chamavam de “homem honesto”. Ora, na corte ou fora dela, entre os grupos nos
salões, saber comportar-se é vital para as relações humanas. Os gestos têm um
papel importante na construção da imagem que faz homens e mulheres comme il faut. O saber, o talento, as
virtudes, o bom gosto, mostram-se através de sinais externos reconhecíveis.
Determinadas posturas ou gestos são capazes de revelar o status, o lugar
que o indivíduo ocupa na sociedade.
Na França do século XVIII, os salões constituíam um dos
raros espaços de liberdade onde as mulheres podiam exprimir-se, mostrar-se,
conversar. Nesse período, esse é um lugar misto, e nele não podem existir
proibições religiosas ou sociais. Os filósofos e os moralistas, os “homens
honestos” por aí circulavam em meio a um grande esforço de educação, quase um
esforço “civilizatório” pela erudição. Aí é necessário moderar os instintos e
dominar as expressões.
Os salões que proliferaram no século XVIII por toda parte,
em especial por Paris, são por vezes designados pela palavra “conversação”.
Nesses ambientes o domínio dos gestos e das palavras é fundamental, e a figura
das anfitriãs dá o tom das conversas, devem ser elas as grandes propulsoras
dessas atividades de sociabilidade pedagogicamente polida.
O objetivo da presente pesquisa é reconhecer os salões
franceses como espaços de exercício de poderes femininos de sociabilidade,
principalmente no que concerne ao desempenho do domínio da arte da conversação
no contexto histórico da França Iluminista do século XVIII.
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